A inserção da China comunista no mercado internacional pelos EUA na década de 70, ainda sob o regime de Mao perseguia dois objetivos: enfraquecer a União Soviética e abrir um imenso mercado consumidor para o capitalismo ocidental. Os dois objetivos foram atingidos, logo surgindo um terceiro objetivo: transformar a China na grande plataforma industrial, com mão-de-obra barata e zero regulamentação, para o Grande Consórcio da Nova Ordem Mundial.
Imaginava-se usá-la assim indefinidamente até que se “convertesse” ao capitalismo liberal instalando algum fantoche, um cachorrinho obediente à nova ordem, alegre e efusivamente instalado no poder pelos maravilhosos mecanismos democráticos ocidentais no seu comando ou simplesmente abandonada ao acaso depois de cumprir sua função temporária.
Porém a China tinha algo que o Ocidente não contava, um Partido Comunista forte, totalmente encastelado e entrelaçado não só à elite mas em toda a sociedade chinesa e disposto a sobreviver dando as cartas.
Instalou-se desde então uma guerra velada nos bastidores do poder na China. Executivos e administradores das mega empresas ligados ao Ocidente e dirigentes francamente comprados pelos colossos éticos” igualmente ocidentais, sobretudo das zonas costeiras, das ZEE (Zonas Econômicas Especiais) versus a velha guarda do partido junto das novas lideranças criadas por eles nas províncias do interior, que tem um projeto nacional de poder e projeção.
Pois bem, Xi Jinping pertence à esta segunda categoria e montou um Politburo que compartilha de seus mesmos ideais.
Pois vejamos:
Seu primeiro-ministro, Li Qiang, engenheiro-agrícola, linha dura, ex-secretário de assuntos políticos em Zhejiang , comandou depois, inabalável, o impopular lockdown de Shangai.
O restante do Politburo principal (os vices premiers):
Observemos agora as características desse grupo que saltam aos olhos: a enorme presença de engenheiros, pessoas práticas e mais voltadas a racionalidade, menos afeitas à magia das narrativas, pessoas que em seus afazeres anteriores faziam parte da “linha-dura”, em órgãos de intervenção, repressão, controle, portanto tarimbadas nos jogos de poder e desestabilização, estando ausentes “empresários” (do modo que se entenda isso na China) e de economistas liberais, oriundos das ZEE, de maior contato ocidental, havendo uma maior tendência eurasiática do que ocidental nas inclinações dos escolhidos.
É por motivos assim que eu não acredito em uma China plenamente submissa à Nova Ordem nos próximos anos. Muito pelo contrário, vejo uma China mais desafiadora e que vai buscar projeção, com ou sem alianças estratégicas.
1 Comment
Muito bom artigo.
Eu na minha humilde opinião estou aqui como aluna, eu não acredito em uma China de cabeça baixa para o ocidente, UE e nem a NOM.
É uma grande potência, domina o mundo há tempos em relação ao livre comércio. E também penso sua ligação com a Rússia.
Só meus pensamento. Mas, a Índia já está fazendo seu barulhinho concorrendo com a China no comércio exterior há tempos também. E não se renderão a NOM. Me desculpe Professor se viajei…. obrigada